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Abre espaço para o cinema em Vitoria da Conquista

Por: João de Jesus
O mês de setembro já começou com um evento de grande dimensão. A Mostra de Cinema Conquista aconteceu de 1 a 6 do presente mês de 2019 no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima. Essa que foi a edição 14 e reuniu milhares de pessoas “famintas” de temas culturais em tempos de incertezas perante uma sociedade que vive uma opressão, seja ela física ou mental. O evento vem exatamente depois que a Ancine (Agencia Nacional do Cinema) sofreu um ameaça real quando o Presidente da Republica disse “Se não puder ter filtro (nas produções audiovisuais brasileiras), nós extinguiremos a Ancine. Privatizaremos, passarei ou extinguiremos” afirmou Jair Bolsonaro na comemoração do Dia Nacional do Futebol (19/07/2019). Fonte: G1
“Está aqui já é uma forma de resistência” diz Maria Marighella, já Marcelo Lopes disse “as mostras de cinema são lugares de resistências, você assiste um filme com esse aqui, você não sai o mesmo que entrou”. As falas refletem exatamente o que foi retratado em quase todos os filmes da Mostra, levar ao publico o inverso do que é disseminado em outros meios, mostrando que não existe apenas um lado da historia. Atrelado a isso também, Julia Katharine diretora e atora de um filme exibido relatou “para esse momento em que há um desmanche na cultura e nas artes, eu acho que faço um filme que apesar de se passar em São Paulo, ele é universal” quando perguntada sobre a relação de seu filme TEA FOR TWO com o contexto atual.
Não apenas os diretores se sentiram satisfeitos com a Mostra de Cinema, mas sim os comerciantes próximos ao Centro de Cultura que viram aumentar os lucros no período, mesmo nas condições do momento “com a Mostra de Cinema o movimento melhorou, eu tive um aumento de 30% em vendas, todo ano assim, às vezes até um pouco mais e mesmo esse sendo um ano difícil na questão financeira, eu já fiz os cálculos tem esse aumento” diz Fernando vendedor de churros, já na loja de hamburguês, o atendente relatou “o financeiro da gente cresce bastante, o publico na Mostra sempre é maior que em dias normais, agente tem um custo maior em mercadoria, mas em compensação, mais clientes para conhecer nossos produtos (...) o ano passado o lucro foi bem melhor, esse ano querendo ou não, o Festival de Inverno atingiu muito as pessoas por ter gasto muito no FIB”.
Além disso, a Mostra de Cinema teve a ilustre participação da Mídia Ninja, uma rede descentralizada de mídia que atua em mais de 250 países se declarando como uma alternativa á imprensa tradicional. Uma de suas representantes destacou a relação do jornalismo com o cinema “contribuir com registro, fatos, ideias, historias que podem formar um novo imaginário (...) o jornalismo tem a cruel missão de contar o que acontece, enquanto o cinema inventa historias, imaginários e metas para que agente possa chegar lá” declara Dríade, fundadora do projeto de comunicação.
Outra coisa que chamou atenção foi o publico que lotou a sala de cinema do Centro de Cultura em quase todos os dias e viu a grande oportunidade de esta frente a frente com um dos eventos mais importantes da cultura do interior da Bahia. E o que eles assistiram foi impactante, em muitos filmes se viu o verdadeiro objetivo de se desconstruir um legado presente no Brasil: a não aceitação dos menos favorecidos. A seguir trechos de destaque de alguns dos filmes presentes na Mostra: “O país do futuro com um imenso passado pela frente” no filme Os Sonâmbulos. “Não se pode dizer a verdade estando do lado de fora, o passado pertence aos mortos” no filme Os Sonâmbulos. “É tanta violência, tanta pressão para cima da gente que às vezes agente tem ate medo de agir (...) eles matam nossos filhos por que eles querem dá uma paz para a elite, os poderosos, então para que essa classe tenha paz, possam viver plenamente, é preciso exterminar nossos filhos” no filme Prefiro não ser Identificada.
Outro grande fator que fez o publico lotar o espaço foi a gratuidade, isso requer um grande esforço e o representante do Instituto Mandacaru Marcelo Lopes completou dizendo “agente não vem de uma tradição de política de cultura que enxerga a cultura como lugar de economia forte (...) tem muitos filmes que não chegam para o mercado e onde vão assistir? Boa parte da população não tem acesso a TV fechada onde passa, não tem acesso a cinema comercial, então vai assistir nas mostras de cinema, o lugar para se formar esse publico e toda a programação aqui é de graça, qualquer pessoa pode assistir”.

Foram 6 dias bem intensos, mais de 50 filmes exibidos, dentro e fora do Centro de Cultura, até por que a Mostra teve exibições também nos distritos de Vitoria da Conquista e no Bairro Urbis VI, além de oficinas e cursos, apresentação musical, papo de cinema, mesa temáticas, conferencias e lançamentos de livros. Tudo grátis para a população e como Maria Marighella relatou “agente tem muito que comemorar, isso é fruto de uma política publica. Agente esta vivendo um golpe fortíssimo, um revés em âmbito federal, então cada evento em que agente afirma, faz e executa é uma grande vitoria, se o campo da arte e da cultura vira alvo, ele também tem que ser flecha, ele tem que apontar caminhos” e foi esse sentimento que ficou a todos que saíram da Mostra Cinema Conquista, ansiosos pela próxima edição e surpreendidos pelo que viram na edição que se passou. A neta de Carlos Marighella também completou sua fala dizendo das perspectivas do cinema em relação ao futuro “estamos vivendo esse cenário absolutamente regressivo, com ameaça real de interrupção de políticas publicas, por exemplo, da política do áudio visual, uma das mais emblemáticas, que conseguiu tirar o Brasil da produção de 2 ate 6 filmes por ano para centenas de filmes” Uma grande resposta da população contra todos os cenários presentes para a sociedade brasileira, uma aula de como respeitar a cultura, momento de curtir o cinema com quem ama e nunca perder a sua identidade.
Foto: João de Jesus

Comentários

  1. Parabéns João, muito boa a sua matéria!!!👏👏

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  2. Parabéns João. Matéria muito bem feita . É necessario muita Resistência para reverter esse quadro regressivo das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da Cultura brasileira.

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    1. Uma verdadeira regressão em tempos que deveria esta melhorando esse contexto cinematografico
      Muito obrigado
      Identifique-se rs

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  3. Parabéns meu querido q Deus te abençoa sempre.

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