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Às vezes a pessoa só precisa de um abraço

 Por: João de Jesus
Foto: Crésio Maciel
Quantas vezes a rotina do dia-a-dia te impede de abraçar? Quanto você daria para ter um abraço num momento difícil? E se você receber um abraço grátis? Perguntas como essas estão algumas vezes na mente das pessoas, mas em alguns casos saem do imaginário e viram realidade. O Abraço Grátis é um projeto criado com a missão de levar o abraço a todas as pessoas possíveis, uma ideia simples, humilde e de bom coração que pode mudar o rumo da vida das pessoas.
Em uma conversa com o ativista do projeto em Vitória da Conquista, Crésio Maciel, ele relatou como foi à origem da comunidade “o abraço existe desde que o mundo é mundo, mas ele documentalmente surgiu em 2004, com o australiano Juan Mann que foi para as ruas oferecer abraços aos desconhecidos pra vida ficar melhor, houve uma filmagem de uma banda australiana, na qual o cantor foi abraçado pelo Juan Mann, fez algumas imagens dele num momento difícil da vida dele, com a perda da avó e o abraço serviu como forma de consolar. Ele fez um vídeo de uma musica que foi muito visualizada na internet e a partir daí deu se origem ao Abraço Grátis no mundo inteiro, mas eu imagino que ações como essa deva ter surgido há mais tempo, registro disso é que não se tem (...) nós aqui de Vitoria da Conquista copiamos essa ideia de abraçar desconhecidos nas ruas para a vida ficar melhor”. Com ele na coordenação do projeto já são mais de 5 anos como ele explica “quando eu voltei de Jequié para cá, logo eu comecei a coordenar os trabalhos junto com outras pessoas, isso por volta de Agosto de 2014”.
Para ele a caminhada de “insistente no projeto” como o mesmo relata sempre te motiva a não ser um líder, mas sim uma pessoa ativa buscando sempre mais pessoas para compartilhar o mesmo projeto que ele “não é que haja uma liderança, mas sim um controle para que as pessoas participem do projeto (...) há 5 anos, uma vez por mês estamos indo as ruas para oferecer abraços a desconhecidos diante de uma organização de grupo, por exemplo, só falamos de abraços e eu por ser o administrador do grupo na internet fiz valer isso, dizendo as pessoas que há um objetivo central do grupo que é promover o abraço dentro das determinações que foram estabelecidas desde o começo (...) eu não sou sozinho o grupo, o grupo é homogêneo”. Ele completa dizendo da dificuldade, em alguns sábados, de organizar um grupo de muitos voluntários para participar do projeto “já houve situações em que eu fiquei sozinho, pessoal foi chegar bem no final e é natural isso, tem momentos que você é convidado a enxergar qual sentido que você esta ali”.
Para Crésio, mesmo sendo um movimento que leve o bem ao desconhecido, ainda sim sobra espaço para as criticas “algumas pessoas não entendem o projeto e creem que nós estamos desocupados e sem responsabilidades. Pessoas que não entendem que, por exemplo, algumas outras trocam de plantão, negociam com os patrões para poderem esta ali, se esforçam para ficar por 2 horas nessa atividade do bem (...) isso faz com que a gente cresça e se temos criticas é por que o trabalho incomoda, tem a sua representatividade”.
Da mesma forma que diversas pessoas não apenas aceitam serem abraçadas, como também agradecem e ficam tão alegres ao receber o abraço, existem seres humanos que não querem o abraço. E atrelado a isso vem à tona como é difícil abraçar todas as pessoas que se deseja e talvez precise. Parece ser muito obvio que se o abraço é grátis naturalmente todos vão aceitar numa boa, mas não é assim, tem diversas pessoas que por inúmeros motivos, não aceitam o abraço, e assim segundo o representante do Abraço Grátis, a pessoa não aceitar ser abraçado já se torna uma critica.
Um dos motivos para a recusa do abraço é que vem na mente de diversas pessoas quando se depara com pessoas abraçando quem nem ao menos conhece, a ideia de envolvimento na política ou religião. No contexto social vigente no Brasil, as pessoas estão cada vez mais desconfiadas com tudo que lhe é oferecido na frente, muitas vezes vão entender como algo de influencia, então para o ativista só se desconstrói esse pensamento quem realmente para, aceita o abraço, conversa e sente a diferença “nossa população tem esse vicio midiático, se é isso que posso dizer, de achar que há algo por trás disso (...) são pessoas que condenam determinadas atividades por acharem que há um interesse por trás de tudo”, de acordo a fala dele, o ser humano necessita direcionar o pensamento para o lado bom da vida, para não imaginar interesse em algo que não tem sentido e ai esta o foco do trabalho voluntário de quem faz o Abraço Grátis de buscar mais levar a verdade a mais pessoas “diz pro outro através de um abraço que talvez o preconceito que ele tem diante do vicio do centro comercial, só muda no ato de abraçar (...) por isso as nossas camisas são brancas com letras pretas, para tirar aquela coisa de partido A ou B”.
No âmbito empresarial, Crésio relata que já pediu ajuda para doação de camisas do Abraço Grátis á pessoas da COTEFAVE, mas que em nenhum momento a questão de divulgação se passou na mente, tanto do grupo, como de quem ajuda, “(...), além disso, (doação de camisas a COTEFAVE) alguns já ofereceram ajudas, mas não exigiram o reconhecimento da oferta, por conta daquilo que a gente já havia preestabelecido que nós não tínhamos nenhuma veiculação política ou religiosa, privada ou qualquer tipo de patrocínio, o grupo de fato teria essa neutralidade total relacionada ao seu objetivo central”.
A gratidão dele para com o projeto é tão visível que ele diz não se ver fora do projeto mais “eu não me resumo a ir apenas ao encontro mensal nosso no centro da cidade, hoje eu vou para Comunidades Terapêuticas que propõe tratamento de adicção, que é o caso da COTEFAVE, vou a reuniões de narcóticos anônimos, de alcoólicos anônimos, no Lar da Misericórdia, também onde eu moro, onde eu ando, com ou sem a camisa do Abraço Grátis, eu estou constantemente abraçando por saber do efeito que o abraço causa em nossas vidas”.
Completando o relato sobre os benefícios já prestados do Abraço Grátis para com a comunidade, Crésio complementa dizendo mais sobre a COTEFAVE, “ela propõe o tratamento da adicção ativa, pessoas que tem dependência química, existe á 17 anos e coordenada pelo padre Gilberto (...) a nossa ida lá já acontece á um ano, uma vez por mês (...) segundo a direção, de certa forma nós ajudamos os acolhidos a receberem suas famílias com um abraço, ele relatou que a nossa atividade ajuda a tirar o estigma de coitado daquele que está albergado na COTEFAVE, ou seja, a família vai visitar o ente querido e não mais o coitado (...) o abraço se torna uma forma terapêutica de tratar a ansiedade”.
Ele diz ainda, que o projeto mudou muito sua vida, o fez sentir o real sentido da vida “com 5 do projeto nos da a roupagem de que somos ativistas do Abraço, na minha família a relação se fortaleceu, pessoas que viviam distantes, hoje são mais próximas (...) eu abraço mais a minha família de um modo geral, é uma troca de afetividade constante que fortalece as relações, eu me sinto amparado quando lembro de um abraço de um ente querido, quando lembro que através do abraço é manifestado o sentimento de amor por estarmos juntos”
Isso se fortaleceu tanto, que mais cidades aderiram ao Abraço Grátis a partir do modelo presente em Vitória da Conquista “a gente lança a ideia no mundo virtual e as cidades dentro de seus cenários estabelecem como e quando vão fazer o trabalho (...) forma um calendário nacional, em que já fomos contemplados de 17 cidades com realizações simultâneas do Abraço Grátis nas ruas do Brasil”. Ele também afirma que a expansão do movimento requer ajuda de toda uma sociedade em geral que já conhece o projeto “motivar pessoas de outras cidades e trazer isso pros lares, dizer às pessoas que a afetividade não esta fora de moda, ela esta sim necessária”.
O desfecho de todos os abraços é mais um ponto debatido pelo ativista, ele recorda que pessoas lembram-se do abraço que tiveram e reconhece quem o abraçou como forma de agradecimento “uns dizem ‘aquele momento era o que eu mais precisava’, (...) certamente temos registros nos nossos psicológicos de pessoas que falaram ‘olha eu fiquei um mês esperando vocês de volta aqui por que eu não entendi a proposta, eu me neguei ao abraço e fiquei remoendo isso dentro de mim por um mês até vocês voltarem”.
E por fim ele indica todas as atribuições para entrar no grupo do Abraço Grátis “para entrar basta se fazer presente nos dias previamente marcados, que é todo primeiro sábado de cada mês de 9 horas até as 11 no Centro da cidade, mas precisamente na Alameda Ramiro Santos, munido ou não da camisa do Abraço Grátis, a camisa ajuda as pessoas ficarem com as mãos mais livres, não precisa usar cartazes, isso já identifica um movimento organizado, por isso que a gente oferta a camisa”.
E por fim o ativista relatou que o projeto é aberto a qualquer pessoa, quem quiser participar basta procurar nas redes sócias, ou aparecer no dia no local citado, próximo abraço será dia 5 de Outubro no Centro. Além de Vitória da Conquista, varias cidades, como Macaúbas e tantas outras, já possuem grupos que aderiram o Abraço Grátis como integrante de sua rotina do bem. O que se destaca nesse projeto é o empenho de pessoas comuns que se unem em favor de uma atitude simples, mas solidaria em favor de um dia mais feliz a qualquer pessoa, seja ela quem for. Atitudes como essa devem ser não apenas contempladas, como também compartilhadas com quem mais necessita, ou seja, todas as pessoas.
            
Foto: Crésio Maciel

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