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“Se a gente não faz nada para as coisas mudarem, elas não mudam", disse Monique Brasil.


Por Alice Santiago e Sara Dutra


Durante o tradicional desfile do 07 de setembro, aconteceu o Grito dos Excluídos na Avenida Integração em Vitória da Conquista. Onde vários movimentos sociais denunciaram a atual realidade em que o Brasil se encontra, como os ataques aos direitos básicos da população e ao meio ambiente.

O movimento é um conjunto de manifestações populares que teve início em 1994 na 2ª Semana Social Brasileira da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O motivo pelo qual escolheram o dia 07 de setembro é contrapor a ideia do Grito da Independência, com o objetivo de dar voz às minorias e à população historicamente excluída.

Em entrevista ao Megafonte, o advogado e militante Alexandre Xandó do movimento Levante Popular, declarou: "O Grito dos Excluídos surge na perspectiva de denunciar o que significa a suposta Independência do Brasil. Então, em todo o Brasil no 07 de setembro, os movimentos sociais vão questionar: De fato o Brasil é independente?"

Em sua 25ª edição, o movimento teve como tema “Vida em primeiro lugar”, e como lema “Este sistema não vale! Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade”. Nesse ano, os protestos foram contra os cortes na educação, reforma da previdência, os crimes ambientais, em defesa da Amazônia e dos direitos trabalhistas.

“Xandó” destaca a necessidade de questionar se de fato somos independentes: “Mais do que nunca, se coloca a posição subserviente, a uma posição norte americana. Vendendo nossas riquezas naturais, abrindo para o capital internacional”. E denuncia os crimes ambientais cometidos pela empresa Vale: “Nós vimos essa tragédia, o crime que aconteceu em Brumadinho e em Mariana. É uma multinacional que está lucrando em cima das mortes e dos corpos do povo brasileiro”.

O movimento contou com mais de 200 atos em todo o Brasil e levou milhares de pessoas as ruas em diversas cidades, para lutar em defesa de seus direitos supostamente garantidos pelo Estado. O Grito dos Excluídos tem como objetivo também, valorizar a vida e mostrar que tem esperança por um mundo melhor, através da mobilização das classes nas lutas populares.


Confira na íntegra entrevista com duas militantes que participaram do ato: Aline Dourado, do Levante Popular e Monique Brasil, integrante do Consulta Popular.




MEGAFONTE: Vocês já participaram deste movimento antes?

ALINE DOURADO: Do grito dos excluídos aqui em Vitória da Conquista é a primeira vez que estou participando, mas já participei em Salvador ano passado que foi no desfile.

MONIQUE BRASIL: Sim, em alguns anos que eu participei, tanto aqui na Bahia quanto no Rio de Janeiro.

MEGAFONTE: O que te faz sempre estar nesta luta?

ALINE DOURADO: O que me motiva é que todos os direitos que conquistamos até hoje foi da conquista do povo na rua. Eu acredito que é na rua que a gente deve estar, para poder protestar contra o governo, contra esse sistema que não vale a nossa vida.

MONIQUE BRASIL: É uma questão de identificação de origem social mesmo. Eu sou do povo, da classe trabalhadora, sou mulher e no momento em que nossos direitos estão sendo atacados não tem como eu ter outra postura a não ser participar.

MEGAFONTE: Para você, em que contribui esses movimentos, diante da atual realidade que nos encontramos?

ALINE DOURADO: Acho que é preciso os movimentos estarem organizados, porque para conscientizar o povo e falar que os movimentos sociais estão do lado do povo, lutando pela educação, por saúde, moradia. E nós do Levante Popular, da juventude, estamos participando do grito, porque sabemos dessa importância de estar na rua, todos esses cortes na educação vão afetar principalmente nós estudantes da classe trabalhadora que vamos sofrer com esses cortes nas bolsas.

MONIQUE BRASIL: É fundamental, se a gente não faz nada para as coisas mudarem as coisas não mudam elas continuam iguais. É necessário que a gente resista, também estamos em um momento que tem até medo de se aproximar dos movimentos sociais, mas é preciso que estejamos aqui prontos para lutar e acolher outros que se identifique com a luta.

Nas 25 edições as pessoas foram para a rua mostrar suas indignações, em busca de melhorias para a sociedade em que vivem. O Grito dos Excluídos deu voz para aqueles que estão insatisfeitos com a situação do país.

Fotos: Sara Dutra


Comentários

  1. Amei essa materia,parabens aos envolvidos ...
    Otimo esclarecimentos sobre esse movimento de suma importância.
    E que se torna um grito de socorro para a parte excluida da sociedade brasileira.

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